Diamantes de sangue – Projeto Diamante Brasil


O governo do Brasil se prepara para licenciar minas de diamantes em todo o território nacional, principalmente na Amazônia Legal.

Por Telma Monteiro, para o Correio da Cidadania

Em março de 2017, sem alarde, o Ministério de Minas e Energia (MME) e o Serviço Geológico do Brasil (CPRM) lançaram os resultados do projeto Diamante Brasil. O projeto consiste no mapeamento das áreas com potencial diamantífero em todos os estados brasileiros. O objetivo principal da CPRM e do MME, ao escancarar a mineração de diamantes em todo o território nacional, é transformar o Brasil no 11º produtor de diamantes do mundo.

Esse mapeamento começou em 2010 patrocinado pela iniciativa privada para atrair investimentos internacionais na mineração de diamantes primários, principalmente. O diamante primário é aquele que se encontra nas rochas chamadas de corpos kimberlíticos a aproximadamente 600 m de profundidade e requer a escavação de crateras com até 1,6 km de largura, além de equipamentos muito pesados. A devastação ambiental é de uma amplitude inigualável.

Fonte: De Beers
O diamante primário é mais puro, a mineração mais produtiva e o resultado é a obtenção de pedras maiores e com maior pureza, brilho e transparência. O diamante secundário é aquele que aflorou na superfície e aparece nos leitos dos rios, mas tem menor potencial de pureza e é encontrado em áreas muito esparsas.

O projeto Diamante Brasil mapeou 1.344 corpos kimberlíticos no Brasil inteiro, em 23 campos. Foi patrocinado por grandes companhias privadas: De Beers, sediada na Africa do Sul, é a maior empresa diamantífera do mundo. Ficou famosa com seu envolvimento na história dos diamantes de sangue, na África, que serviram para financiar guerras; Petra Diamonds, sediada na ilha de Jersey, um paraíso fiscal na Inglaterra; Brazilian Diamonds Limited, que tem endereço em Belo Horizonte, MG; Vaaldian Resources Limited, com sede em Toronto, Canadá; Gem Diamonds, com escritório em Londres e manufatura, vendas e marketing em Antuérpia, Bélgica.

De Beers - Botswana - Fonte: De Beers
Anglo American
Para minha surpresa, a gigante Anglo American, conglomerado britânico com sede em Londres, é dona de 85% do capital da De Beers, e os outros 15% são do governo de Botswana. A Anglo American é uma das maiores mineradoras do planeta e no Brasil extrai minério de ferro e níquel. Está presente na África, Europa, América do Sul, América do Norte e Austrália, onde explora e beneficia platina, diamantes, cobre, níquel, minério de ferro e carvão. O estado de Minas Gerais é o foco da Anglo American, especificamente na região de Conceição do Mato Dentro, onde se localiza o Projeto Minas-Rio que extrai e beneficia minério de ferro, a ser transportado num mineroduto, com água, de 525km até o Rio de Janeiro.

Diamantes de Sangue
A exploração de minas de diamantes tem um histórico de acusações como maus-tratos, trabalho escravo, superfaturamento, lavagem de dinheiro, monopólio, incentivo a guerra e conflitos raciais.
Os maiores negociantes de diamantes do mundo são a De Beers, sul-africana e o milionário russo Lev Leviev. A história da exploração de minas de diamantes mostra uma proximidade promíscua entre governos e empresas mineradoras.

Temo que teremos uma longa luta pela frente para impedir que o Brasil seja o próximo grande produtor de diamantes de sangue para satisfazer a ganância do mundo. Sabemos como os licenciamentos se dão por aqui, principalmente em se tratando de órgãos estaduais de meio ambiente. No caso da exploração de grandes minas de diamantes em vários estados brasileiros a sociedade terá dificuldades de acompanhar os licenciamentos que, sabemos, primam pela falta de transparência.
Montain Province Diamonds, Canadá - Fonte: De Beers

Junte-se a isso a fragilidade das leis ambientais e trabalhistas, o não cumprimento dos compromissos assumidos nos estudos e, principalmente, os impactos socioambientais que mais uma vez vão atingir as populações mais fragilizadas do país. A Amazônia Legal está justamente na trilha desse novo e iminente desastre.

Não serão apenas diamantes que serão retirados do nosso território, mas tudo aquilo que puder ser minerado no caminho até chegar a eles. E os rejeitos? Nós temos exemplos suficientes, principalmente o desastre de Mariana, até hoje sem a punição dos responsáveis e indenização das vítimas. Me pergunto se a Ferrogrão não servirá no futuro para escoar os resultados da mineração no norte de Mato Grosso, região considerada no projeto a maior concentração de corpos kimbelíticos do Brasil.

Queremos o Projeto Diamante Brasil?

Tabela dos campos kimberlíticos e patrocínios - Fonte: CPRM

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