segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Lamento do rio Xingu

Iniciei minha vida em terras distantes
Tenho seguido por vales, planícies e montes
Meu dossel tem sido defendido com luta, mas sigo conquistando meu caminho
Passando e passando e vendo tudo mudar
Aos poucos, sutilmente.

Os vales não são mais tão verdes, e as várzeas nem tão vivas
Sinto passar por mim a energia e sinto o sopro do perigo
Terras escorrem, nas minhas margens, qual sangue de ferimento
O miasma da vida se esvai e o ar, sinto faltar.

Meus lamentos foram ouvidos, distantes deste leito
Em terras faltantes e, no vácuo, em que nunca ecoam
Meu reino está ameaçado e minha alma destroçada
Sinto a vida se esvaindo e o amor falso me consumindo.
Alguém ouviu meu lamento e, ao fundo, meu borbulhar
Sou rio, tento gritar, mas no silêncio estou fadado a fraquejar

Quem me dera continuar meu caminho
Quem me dera sua alma vivesse nas moléculas do meu ser.
Aliado amigo, sem você não vou sobreviver
Não terei forças sem tuas mãos e não serei senhor sem ti, meu defensor.

Minhas águas vão percorrer o inferno do descaso
No caminho estrangulado, ceifado e corrompido, gritarei teu nome,
Glenn
Salve-me, salve a vida que carrego, salve a vida que espraio, salve a vida

Um caminho ameaçado um rio atormentado
Sou assim agora, Glenn, sem você, um rio condenado.

Telma Monteiro
Para o Glenn, neste 21 de dezembro de 2009

Um comentário:

  1. O Rio Xingu sabe que não está condenado. Ele é muito mais sábio do que você pensa. Ele entende e reconhece a perda. Impossível distinguir nas suas águas a dor, pois ela se mistura com as outras águas que ele comporta. E são justamente essas outras águas, as velhas águas que mantém o equilíbrio do leito, contrabalançando as jovens e afoitas que irrompem dos córregos vizinhos, que sabem que não estão sozinhas. E que reconhecem em você a força não só para continuar a luta, como para buscar nov@s aliad@s para defendê-lo.

    Um beijo da amiga/irmã Tania.

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